Aninha
Um dia desses um amigo me perguntou:
- Você não está esquecendo de respirar?
Achei muito louco, mas como gosto muito dele resolvi pensar...

Na verdade não foi bem assim que as coisas aconteceram, mas foi assim que fez sentido pra mim. Em poucas palavras este amigo me mostrou que eu não estava mais respirando.

Me vi em alto mar, segurando com toda minha força um tesouro enorme, valioso, mágico, único...Tudo era muito bonito, fantástico, especial, eu sabia!

Mas eu não me dava conta que não conseguia mais mantê-lo na superfície, há algum tempo eu nadava da melhor maneira que sou capaz, mas o tesouro teimava em afundar... Eu dava tudo de mim, o trazia até a superfície por alguns minutos, logo ele pesava e eu afundava junto.

Cada vez ele ia mais fundo, cada vez era mais difícil e demorado trazê-lo a superfície onde eu encontrava o ar. Presa a ele também quase não saía mais do fundo do mar.

Soltei... deixei o tesouro afundar sozinho e nadei com todas as minhas forças para subir e encontrar o ar que tanto me faltou e ainda me falta.

Eu sei nadar, eu vou sobrevier, e conquistarei um outro tesouro... mas antes estou me lembrando de respirar.
Aninha
Com medo de me expor, me contradizer ou me perder nesta minha confusão sem tamanho, apenas me aproprio de uma canção.

Ela diz por mim e pra mim, ecoa...

"... Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará
A vida vem em ondas como o mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo
Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo
Agora
Há tanta vida lá fora, aqui dentro
Sempre como uma onda no mar..."
Aninha
Cada dia me decepciono mais com minha ansiedade... Algumas vezes acho que não sei esperar, não consigo esfriar a cabeça e pensar um pouco, tenho a maior dificuldade quando o assunto é dar tempo ao tempo.

Sempre que me vejo frente a uma situação de decisão, posicionamento, escolha, problema, etc, quero logo arregaçar as mangas e resolver, ir a luta, conversar com quem for necessário, tomar as providências, realizar as mudanças e bola pra frente.

Mas nem sempre é assim...

Algumas coisas precisam do seu tempo, da sua oportunidade, do momento adequado

- Um bebê precisa de nove meses para nascer saudável.

- O bolo precisa de 20 minutos de forno para ficar assado.

- O cabelo precisa de alguns meses para crescer depois de um corte radical.

Mesmo sabendo de todas estas exigências do tempo, para mim é muito complicado respeitar e me acalmar, me sinto dominada pela força do aqui e agora. Quero resolver tudo o quanto antes.

Sei que nem tudo é assim, estou passando por uma fase crítica neste sentido, minha ansiedade é colocada a prova todos os dias, e quanto maior a expectativa, mais me sinto de mãos atadas.

“Cultive a espera e entenda que a impotência é uma lição de humildade"
Aninha
Acordei mais cedo com um despertador mal programado, acho que meu subconsciente sabia que eu tinha um compromisso... Não era tão cedo assim, mas pra mim ainda era madrugada; claro que pra mim antes do meio dia é sempre madrugada....

O dia estava bonito, o sol forte e claro, mas o frio queimava meu rosto e fazia meu corpo doer, parece que estou enferrujada; esta sensação é comum no outono e no começo do inverno, depois acostumo.

Ainda meio dormindo encontrei algumas pessoas que falavam sobre algo que me interessou, logo a curiosidade tomou conta da preguiça. Ouvi atenta alguns minutos, prestei atenção em cada respiração, cada entonação, cada expressão sutil que cada um fazia; despertar com aquelas palavras pareceu mágico, motivador.

Cerca de 15 minutos depois a conversa mudou de rumo, um papo chato, que não me agradava e que eu não concordava, jamais ouviria tudo aquilo quieta...

Por sinal isso sempre me instigou: "Como algumas pessoas conseguem ouvir tantos absurdos quietas, sem retrucar ou questionar?" Sei que deixar pra lá evita brigas, desavenças; mas eu simplesmente não consigo, ouvir o que não concordo e não fazer nada não faz parte de mim. Se eu bem me conhecia era hora de tomar a palavra e discordar.

Para minha surpresa não foi o que eu fiz; fiquei na minha, ali, sem dizer uma palavra sequer... É mais que óbvio que eu não estava ouvindo tudo o que não concordo calada, eu simplesmente não estava ouvido. Minha imaginação estava vagando bem longe dali, meu pensamento estava em outro lugar, com outras pessoas, em outro tempo.

Quando percebi quão longe eu estava e quão sem sentido era a conversa que acontecia ao meu redor entendi o tamanho da minha conquista.

“Eu aprendi a desligar os ouvidos e ligar a imaginação“